sábado, 18 de dezembro de 2010

Diários de Calico #5

O Swing saltitava entre as tábuas do velho soalho que rangia com o frenético dançar, o qual serpenteava por entre o fumo que enevoava o ar e o álcool que iludia a alma. Assim se pode descrever numa única frase o ambiente do Irelander. Chamava-se assim por o seu dono, o velho Finn O'Mcdonald (Finn O'Mac para os amigos), ser originário de Kildare. Para ele aquele bar era o mais parecido com os verdes prados do condado de Cork ou a espuma preta de uma boa caneca de Guinness que ele podia encontrar no meio daquele amontoado de pedra, terra, sol e madeira a que um dia se decidiu chamar Calico.

A música era uma constante, não poderia existir um Saloon como aquele sem ela. O velho Finn era uma amante de música e sempre que se lhe dava a mínima hipótese lá estava ele a trocar os copos e as garrafas de whiskey e gin pelas velhas teclas de marfim do seu piano ou as gastas cordas do seu violino ou algo menos rebuscado como uma simples harmónica. Fosse em que instrumento fosse ele provava ser exímio em qualquer um deles mas mais que isso, tinha a capacidade de contagiar todo um bar que mal ouvia os primeiros acordes ganhava uma nova vida. Era uma rambóia interminável essa que todas as noites enchia aquelas simples paredes de animação e alegria fazendo com que os contratempos do dia a dias fossem algo minúsculo e insignificante

Mas nem só de música vivia o ambiente boémio do Irelander, o seu encanto também ficava em muito a dever-se a simples características como o seu ar carregado pelo fumo do cachimbo ou as conversas de fundo que enchiam aquele espaço e faziam parte da vida de toda uma cidade que mal o relógio batia nove badaladas ali rumava; quem sabe para também ela achar um pouco do seu sentido entre o flamejante swing ou o melancólico Jazz.

Mas o que seria de um bar se não tivesse um bom par de rixas e escaramuças na sua história para exibir como se fossem condecorações de guerra e no caso do bar do O’Mac não era preciso esperar muito para ver uma. Era tão-somente uma questão de numa das muitas mesas algum trapaceiro tentar passar a perna às velhas raposas de Calico e ser apanhado. Num piscar de olhos todo o bar estava envolvo num enorme reboliço que à falta de melhor razão servia para mostrar ao forasteiro a raça e a alma daqueles com quem lidava. Cadeiras berravam, os murros silvavam entre os palavrões e o calão. Todo um pacato ambiente transformado no mais caótico dos campos de batalha, toda uma população aparentemente civilizada transformava-se na mais selvática tribo bárbara.
Chamem-me louco ou inconsciente mas sempre achei que estes momentos de violência gratuita eram uma necessidade daquelas vidas que naquele momento ali bravamente se debatiam umas contra as outras. Para mim, um bom serão no Irelander devia incluir um pouco de tudo, um bom copo de whiskey, um bom cigarro, uma boa música de fundo e uma sessão de pancadaria das antigas.

Se isto tudo já não fosse mais que suficiente para fascinar o jovem que existia em mim na altura havia algo ainda mais surreal: O McDonald apesar dos seus cinquenta e muitos anos era sempre o primeiro a amotinar tudo e todos para a pancada e mal esta estava lançada ia-se sentar no seu piano a tocar uma música condigna com a presente escaramuça. Era um gosto adquirido - dizia-me ele – o caos acompanhado pela arte. Pensando bem, num local que sorvia tanto da sua existência nas melodias da vida, algo tão característico do Irelander, como eram as suas muitas noites de confusão boémia, não poderia acontecer sem ser ao ritmo desta. Não poderia ser de outra forma.

Estranhamente, com o passar dos anos, cheguei à conclusão que tudo aquilo que se desenvolvia no Irelander era essencial às vidas dos que por lá perdiam parte da sua existência. Nunca percebi bem porquê mas sentia que tinha razão através do vigor dos socos que eram trocados, do timbre dos gritos de guerra lançados ou no brilho estampado no olhar daqueles que, tal com o Finn O’Mac, apreciavam tudo quanto o Irelander podia oferecer

E só quando por fim, já envolto pelo breu da noite, o abraço do silêncio e a mordaça da solidão; a calma voltava ao Irelander de o velho McDonald fechava as portadas, trancava as portas e seguia rua fora assobiando à lua, sua fiel companheira, a mesma canção de sempre é que Calico ia dormir.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Diários de Calico #4

Das muitas vidas que cruzavam as poeirentas ruas de Calico nenhuma me fascinava mais que a do carteiro. Naquela altura e na zona do país em questão, o serviço postal era algo feito numa base semanal e era comum que pequenas cidades como esta partilhassem os serviços do mesmo carteiro o qual num galopar incessante e incansável trazia e levava as novas de terra a terra.

No caso de Calico, o carteiro era um homem a um par de anos da meia-idade, de feições não tão rígidas quanto as lendas do velho oeste insistem em caracterizar esses cavaleiros solitários. Tinha a face marcada pelas árduas jornadas sob um sol abrasador ao longo desse deserto que tantas vezes parecia interminável e implacável. Tinha um porte imponente: ombros largos, alto, voz grave, era alguém decididamente perfeito para as exigências da tarefa. De todas estas características nenhuma era tão bem conhecida como o som da sua harmónica a ecoar ainda a vários quilómetros de distância, cruzando os céus laranja e anunciando a sua chegada.

Em toda a minha vida convivi com vários carteiros mas nenhum, no entanto, me deixou tantas e tão marcantes recordações como este senhor que teimava em chegar ao cair da noite ao invés do primeiro raiar da alvorada. Ele que trocava o alegre cantar do viajante pelo triste sopro da sua harmónica que apesar de tanta tristeza carregar nenhuma à correspondência dizia respeito, distribuindo alegria através desses tesouros escritos em tinta sobre papel e tão ternamente acondicionados nesses belos e clássicos envelopes que ele fazia questão de não ficarem sem destinatário, promessa essa que tanto sofrimento na cara lhe espelhou.

Sempre o vi como alguém que tinha o deserto, a Lua e o seu fiel cavalo por únicos companheiros, não que achasse que isso o fazia infeliz. Das inúmeras vezes que o vi, nem por um único momento a sua melodia me soou como um choro... Soava a tristeza sim mas uma tristeza bela, algo digno de alguém que amava a sua vida e o seu ofício de tal modo que a simples percepção da efemeridade dessas jornadas audaciosas pelo deserto e de as suas aventuras não mais que uma vida durarem o entristeciam e faziam apertar a saudade de um deserto que ainda não havia perdido, mas que um dia inevitavelmente se iria, ele que foi a sua casa da qual o céu estrelado que tantas noites o seu tecto fora.

Nunca consegui entender o que certo dia o levou a deixar amizades, terras e amores, abdicar de sonhos e aspirações para se tornar num meio de transporte de sentimentos, levando a felicidade alheia de terra em terra a troco de sorrisos e do seu próprio esforço.

Muitos livros se escreveram sobre bandidos, xerifes, cowboys, aldrabões e outros que tais, mas nunca uma singela página foi dedicada a esta gente de fibra, que entre noites gélidas ao relento a manhãs enevoadas e inóspitas nunca deixaram uma mensagem por entregar, fosse ela uma cobrança de uma qualquer mísera dívida ou uma declaração de amor que para alguém seria o mundo.

Uma verdadeira lenda, seja onde for, havendo luar e um céu estrelado sinto aquela velha e tão familiar melodia a ecoar de novo ao meu ouvido e isso, de certa forma faz-me sentir tristemente feliz...

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Diários de Calico #3

Se há memória que não se perde é a do primeiro dia de escola. No meu caso isso seria equivalente a dizer que tenho várias memórias dessas mas, em verdade, poucas se comparam à que tenho de Calico.

A escola desta pacata cidade no meio do deserto plantada não era um edifício imponente, com ar moderno ou com um enorme letreiro a indicar a sua função. Era um edifício simples, de um só andar totalmente revestido de madeira, e apesar de ter já algumas marcas do tempo e das traquinices dos mais novos havia algo de intrigante nele que impedia de desviar a vista dele.
Apesar deste aspecto exterior algo degradado e pouco convidativo o seu interior era acolhedor, não por ser novo ou estar arranjado, muito pelo contrário.

Desde o soalho de madeira que rangia sem timidez nos mais variados tons, com os quais a criançada se divertia a compor melodias como se este de um enorme piano se tratasse, às portadas das janelas que batiam de acordo com o silvar do vento pelas pequenas falhas entre as tábuas que erguiam aquele lugar que apesar de tudo tão mágico era.

E numa dessas salas lá estava ela, sentada na sua secretária iluminada apenas pelo seu candeeiro e com os óculos pendurados ao pescoço, à espera dos seus petizes para, por uma vez mais, os fascinar com histórias dos mais famigerados fora da lei, inimigos da ordem e heróis populares, com um entusiasmo que só ela era capaz de transmitir e que nos fazia imaginar como seria cavalgar sem rumo por todo esse oeste selvagem que tantas lendas criou, território dos bravos, paraíso dos destemidos, terra da liberdade, de todos e de ninguém.

Tinha um talento natural soberbo para naquelas cerca de cinco horas nos abstrair de quaisquer adversidades do dia a dia, criando todo um imaginário de fantasia e ficção nas nossas cabeças a partir de meras letras impressas nas folhas, já amarelas da idade, daquele velho livro de capa dura e escura, digno de figurar numa qualquer biblioteca renascentista.

A sua voz convencia e o seu tom encantava, despertava o fascínio de todos quantos tinham o prazer de conviver com ela. Desde o carteiro, que todos os dias inventava uma nova razão para bater à sua porta, ao merceeiro que, no seu jeito meio grosseiro, diariamente lhe ia levar uma flor em jeito de corte numa tentativa vã de chamar a sua atenção e tentar disfarçar a sua notória falta de jeito para estas vidas de amores.
Ninguém lhe conseguia passar despercebido desde o dia em que chegara aqui. Foi acolhida como sendo a filha exemplar e há muito desejada de Calico.

Todas as histórias precisam de protagonistas e todos os romances suspiram por... algo mais...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Diários de Calico #2

Viver em Calico não era propriamente fácil, era um território ingrato que não dava nada sem contrapartidas; não rendia a sua riqueza à ambição humana sem antes reclamar o seu preço no sofrimento que estampava nas caras de outros que tal como o meu pai ali chegaram atraídos pelo seu traiçoeiro canto de felicidade e prosperidade.
Era uma terra inóspita, trabalhada solo a solo, sem outra cor senão o castanho do pó e o laranja nos confins do seu horizonte, onde a terra abraça o céu.

Apesar de tudo quando exigia a vida nesta pequena cidade estava longe de ser um inferno, era um exemplo vivo do sonho americano, dia após dia, semana após semana inúmeros eram os que chegavam atrás da prometida vida nova que Calico aparentava oferecer, longe de toda a miséria a que alguns pareciam condenados.

Lembro-me especialmente daqueles finais de tarde depois do jantar, no alpendre de nossa casa. A minha mãe ia-se sentar na cadeira de baloiço levando com ela as suas agulhas e começava a tricotar a mais variadas peças de vestuário, desde uma camisola de lã de cores berrantes e capaz de embaraçar qualquer rapaz de 6 anos até um qualquer par de meias... Enquanto isso já o meu pai se havia instalado confortavelmente no seu habitual lugar e acendido o seu fiel cachimbo de madeira, já negra e marcada pelo passar dos anos, ficando então a fumegar em silêncio enquanto olhava o horizonte com encanto, durante anos não fui capaz de perceber ao certo que fascínio poderia ele ver numa planície indomável e sem fim...

Para mim aquela era a melhor altura do dia, na maioria das vezes ficava sentado nas escadas, imóvel e calado, a ouvir as pessoas que passavam dum lado para o outro, na maioria das vezes sujas e cansadas, mas sempre com um sorriso na cara.
Era uma terra mágica que encantava todos quantos a ela chegavam com intenção de não mais a deixar fosse porque razão fosse.

Recordo-me do dia em que perguntei ao meu pai porque razão tantos largavam tudo quanto tinham e para aqui rumavam sem nada mais que uma incerta promessa de prosperidade...
Não me soube dar uma resposta concreta, apenas foi capaz de esboçar um sorriso...


Eles simplesmente acreditavam em ti, Calico.

sábado, 30 de outubro de 2010

Diários de Calico #1

Guardo poucas recordações da minha infância, talvez por terem sido tempos difíceis para se conseguir ser criança ou por não sentir que tais tempos tenham realmente sido como seria de esperar, entre mudanças de terra em terra com os meus pais que duravam ora semanas ora meses. Uma das que nunca consegui esquecer foi aquela do primeiro dia em que cheguei a Calico: o meu pai dizia que se tudo corresse bem seria ali que encontraríamos a felicidade e a estabilidade que tanto ansiávamos – honestamente sempre o achei bastante ingénuo para um adulto que tinha passado por tantas adversidades ao longo da vida; não posso no entanto deixar de admirar a maneira como nos conseguia sempre alegrar lá em casa. Achei impossível que ao fim de tanto salto de um local para o outro pudéssemos realmente ser felizes num sítio específico; já estávamos habituados a não nos agarrar demasiado aos lugares por onde passávamos e às suas gentes pois em grande parte deles a nossa presença seria efémera, no entanto, ali foi diferente.

Se à chegada todo aquele ruído ensurdecedor me soava a um negro dia de trovoada e o fumo que emanava daquelas chaminés nada mais me lembrava senão a escura noite, bastou vê-la no jardim da casa ao lado a brincar com a sua boneca de trapos enquanto entoava uma canção que de modo algum parecia ser afectada por todo aquele ruído que tanto me incomodava; eu era tímido (sempre o fui, na verdade tímido não era o termo correcto, era...reservado) e apenas por isso me contive de logo ir perguntar-lhe como o conseguia fazer; como conseguia ter um sorriso na cara numa cidade que inspirava sofregamente trabalho e transpirava pó. A minha mãe percebeu logo tudo, característica fantástica essa inerente a qualquer mãe, baixou-se, sorriu-me e disse-me tão somente que ela era muito bonita e decerto seria simpática.

Com os anos aprendi que esses conceitos nada mais são que uma forma abstracta de tentar explicar porque se gosta mas a verdade é esta: nunca ao longo da vida somos capazes de ver com tanta clareza porque se gosta de alguém como quando somos pequenos, gostamos porque gostamos, e eu ainda mal a tinha visto e já gostava dela.

Não sabia o nome, nem a idade, nem tão pouco se tinha a voz suave e fina ou grave e grossa, se era carinhosa e amável ou se pelo contrário era uma peste insuportável... naquele momento tudo o que queria era unicamente estar sentado ao lado dela a vê-la segurar firme mas suavemente na sua linda boneca.

Os dias passaram e nem por uma vez ganhei coragem de lhe dirigir um mísero olá; dava comigo a ir brincar para o jardim sem ter vontade, eu queria lá saber de brincar... tudo o que queria era simplesmente olhar para ela, sentir o aroma que o vento trazia dela para mim e que, mesmo não o sendo, sabia melhor do que muitos dos beijos que dei nesta vida, ouvir as suas canções e adormecer à sombra da nossa macieira na esperança de sonhar com ela.

Os dias viraram semanas, as semanas viraram meses e a verdade é que tudo indicava que ali estava realmente aquilo que ao longo dos anos procurámos; pelo meio ultrapassei a infundada vergonha infantil que sempre tive e perguntei-lhe se queria ser minha amiga (engraçada a forma como se travam amizades quando somos pequenos, tão mais fácil e simples do que na vida adulta, quando se sente que a confiança essa é sempre garantida e que nunca precisaremos de duvidar ou desconfiar de nada).

Os meses rapidamente se converteram em anos, foi ao longo desse tempo e com ela que finalmente aprendi a triste mas doce melodia de Calico: das tubas que eram as chaminés; às cornetas que eram as picaretas, o rufar do tambor marcado pela dinamite passando pela voz e alma dos incansáveis mineiros e outros que tais.
Era para mim a mais rude mas agradável das melodias e a ela devo tudo isso, a ela devo o amor que tive e ainda hoje tenho por esta cidade. Há coisas que nunca esqueci, a sua música, nome, cheiro, cor, voz e alegria ficaram, devo-lho muito mas se houve algo que nunca lhe desculpei foi um dia ter levado a minha inocência e o meu coração e com eles ter desaparecido sem avisar e para não mais voltar...



...Até um dia... Passados muitos anos ...

sábado, 23 de outubro de 2010

Penguin Cafe Orchestra





Calcorreando as ruas de uma qualquer zona menos iluminada deste mundo é, na grande maioria dos casos convite a acabar a noite sem documentos e sem roupa; não deixa de ser no entanto verdade que por vezes a audácia (ou a loucura) de tentar tal façanha é recompensada quando por fim encontramos aquele café pelo qual corremos toda uma ruela pouco iluminada. O aspecto exterior não é de todo convidativo nem tão pouco existe um letreiro de boas vindas… existe tão somente uma melodia que ecoa pelas variadas portadas cerradas através das quais sai uma fraca luminosidade. Não é de todo convidativo bem sei, mas e porque não um último impulso irracional de alguém que anseia algo diferente de tudo aquilo a que já teve direito? Algo sublimemente fora de série e espectacular ao ponto de em cada acorde, em cada nota, em cada respiração provocar uma completa explosão no nosso interior, sentir um misto de alegria e tristeza, revolucionando de uma forma calma e metódica toda uma concepção do conceito de Música.

Não é algo fácil de se conseguir, especialmente porque é preciso saber entrar timidamente nesse pequeno e escuro café, encontrar o nosso lugar, pedir a nossa bebida e sincronizar a nossa batida com a da melodia que ecoa e enche a alma no preciso momento em que a última gota cai acompanhando o eco cada vez mais distante de algo que enchera aquele bar de uma maneira indescritível.

Não falo de algo utópico, a perfeição rítmica, criativa e apaixonada da Música realmente existe. Não é algo acessível, é uma musicalidade difícil e que só se compreende quando abrimos a mente e deixamos escapar tudo o quanto seja acessório na nossa vida, apenas quando música é tudo o que sobra somos capazes de sentir o vibrar do violino, o ressoar da caixa de rufo, o moroso sussurrar do baixo ou o silencioso tocar dos dedos nas teclas dos harmónios, pianos e órgãos; coisas que por si só seriam simples ruído tornam-se num contexto geral algo mais que conhecimento, muito acima do homem ou da vida. Tornam-se na mais perfeita melodia que aquele Café do Pinguim e a sua Orquestra nos podem proporcionar. Não é um tipo de música fácil, nunca o foi o Jazz quanto mais o Jazz de Câmara, é uma modalidade fechada e algo difícil de interiorizar mas trás com ele a promessa de conferir a quem lhe dedicar algum tempo a mais espectacular das sensações, que há coisas nesta vida que valem a pena.

Não basta ouvir ou ver, é preciso sentir, é preciso ser uno com ela, deixar que o mais simples som se faça ressoar através de nós e que com ele transporte um pouco da nossa essência.

De toda essa panóplia de informação biográfica desde terem tido 25 anos de actividade até terem sido simplesmente um dos mais influentes grupos de música de câmara na história da música, passando pelo seu trágico fim aquando da morte do seu líder e mentor, Simon Jeffes que desde o órgão à guitarra,passando pela flauta ou até pelo português cavaquinho, tudo sabia tocar e encantar; nada do que diga se poderá comparar à simples descrição de todo esse conjunto de sensações diferentes e únicas que Penguin Cafe Orchestra proporciona. Não me vejo como um guru musical, vejo-me sim como um vendedor de sonhos que de bom grado e em troca de um sorriso partilha aquilo que ainda vai dando alguma cor a esta vida que cada vez mais é em tons de sépia.

Há música em mim, em ti, nele, nós, vós e eles. Desde as mais profundas entranhas da terra ao mais alto dos planaltos, do calor do deserto às neves das montanhas. Tudo isto é Música, tudo isto é Vida.


Penguin Cafe Orchestra
Site

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

É tão simples...

"Anda, desliga o cabo,
que liga a vida, a esse jogo,
joga comigo, um jogo novo,
com duas vidas, um contra o outro.

Já não basta,
esta luta contra o tempo,
este tempo que perdemos,
a tentar vencer alguém.

Ao fim ao cabo,
o que é dado como um ganho,
vai-se a ver desperdiçamos,
sem nada dar a ninguém.

Anda, faz uma pausa,
encosta o carro,
sai da corrida,
larga essa guerra,
que a tua meta,
está deste lado,
da tua vida.

Muda de nível,
sai do estado invisível,
põe o modo compatível,
com a minha condição,
que a tua vida,
é real e repetida,
dá-te mais que o impossível,
se me deres a tua mão.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Anda, mostra o que vales,
tu nesse jogo,
vales tão pouco,
troca de vício,
por outro novo,
que o desafio,
é corpo a corpo.

Escolhe a arma,
a estratégia que não falhe,
o lado forte da batalha,
põe no máximo o poder.

Dou-te a vantagem, tu com tudo, eu sem nada,
que mesmo assim, desarmada, vou-te ensinar a perder.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens.

Sai de casa e vem comigo para a rua,
vem, q'essa vida que tens,
por mais vidas que tu ganhes,
é a tua que,
mais perde se não vens"


Deolinda - Um Contra o Outro

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Terra do Nunca

Diz-me, quantas vezes sentiste esse alucinante e surreal sentimento de alegria no seu estado puro? Esse que te faz voltar à folia da infância há muito acabada: desde o primeiro soldadinho de chumbo com a sua fiel baioneta e a indispensável corneta, até ao primeiro camião de obras, passando por toda essa parafernália de gruas, homens de pás e picaretas.
Isto sem nunca esquecer as betoneiras a completar toda uma equipa indispensável à construção e protecção dessa fortaleza de sonhos e aspirações que tão soubeste construir e manter e, por fatalidade da vida, cujo projecto perdeste por completo à medida que o tempo, sempre esse vil e desleal adversário, passou por ti transformando o menino em jovem e em homem; uma troca injusta de felicidade e inocência por maturidade e dever…

Deixaste de ser o pequeno e genial projectista que ao seu lento ritmo construía um após outro os alicerces da sua bela juventude, para te tornares num mestre obras de coração frio que a tudo e todos deve temor e desconfiança. A beleza e a imponência pouco mais são que o resultado do sacrifício forçado e pouco apetecível da criança que eras para te tornares no sombrio ser que tanto recearas e negligenciaras ao longo desses anos dourados, agora finados.
O soldadinho deixou de tocar a sua corneta e desertou do seu posto de guarda, os teus trabalhadores, esses que outrora com alegria e engenho tanto construíam e projectavam agora, sem matéria prima para continuar o teu sonho de menino, partiram em busca de quem de braços e alma abertos os recebam.

Resta-te apenas essa tua velha e poeirenta fortaleza, que é agora pesadelo persistente da glória e esplendor que um dia tiveste e para sempre perdeste. Os trovadores já não se ouvem, apenas o vento canta por entre as gélidas e inóspitas paredes de pedra. A obra mantém-se mas a alma desmoronou e não mais lhe dará vida...

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Music for a Found Harmonium

Falar de música é acima de tudo falar de ti e do modo como concentras em ti o que sobejamente há de melhor nela.
Como o teu sorriso lembra a mais alegre das canções ou como o teu simples andar pela mais modesta rua é tão mais que isso trazendo à memória toda a elegância e glamour do soul do qual és a sua inegável diva.

A forma singela como um mero respirar teu não sai do compasso estabelecido pelo teu coração, maestro e compositor de toda a música que és e há em ti. A pureza e leveza do teu ser à qual balada alguma se poderá equiparar de tão indefinível que é; pois toda tu és arte e graciosidade que marca qualquer um afortunado o suficiente para sentir em si nem que seja uma pequena porção da imensa Ode que de ti exalta.

Como não suspirar pela honra de desfrutar de tudo isso: desde a tua alegria ao teu desespero que transforma o mais agradável dos luares no mais escuro dos calabouços da noite onde apenas penetra o vil e depressivo Jazz e dar a experimentar toda uma sensação de impotência para com o sofrimento da frágil e delicada alma que no fundo de ti existe, por trás de toda essa rebeldia que música alguma um dia chegará para descrever.

A tua essência requer, tal e qual a mais sensível das árias, o maior carinho dos músicos para com a mais sublime das melodias, escrita pelas tuas mãos que são a caneta de pena em tons de vermelho marca para sempre essa infinita e bela pauta musical que é a vida; a sua e mais concretamente a dos pobres de alma que ambicionam um dia simplesmente senti-la ecoando nos seus afortunados ouvidos vinda quer da tua voz, suave como a ancestral mas não menos romântica e harmoniosa Harpa, do leve assobiar da primeira brisa matinal ou do último raiar do crepúsculo; tendo sempre por musa essa unicidade que és tu.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Calico

Grandes e imponentes máquinas a vapor delimitavam as linhas dum horizonte que não era mais selvagem, as suas chaminés as tuas montanhas, o seu fumo a tua névoa e o teu sol…as lanternas que alumiavam as tuas ruas noite fora. Foste o culminar da terrível máquina industrial mas mesmo o sendo soubeste dota-la de um coração, mais do que isso: espelhaste a alegria em todos quantos enterravam em ti as suas vidas, solo a solo, dia a dia. Foste o El Dorado dos tolos e o paraíso de poucos mas a todos fizeste promessas surreais de glória e riqueza.

Os sons das tuas engrenagens eram os cânticos que ecoavam nas cabeças das novas gerações que ansiavam um dia poder, tal como seus pais, aventurar-se nas profundezas dessa terra que já não era só tua mas vossa. Bravos os mineiros que te enfrentavam e nos teus confins buscavam a riqueza, valentes os moços das vagonetas que desciam rapidamente por esses escuros túneis tendo por amigo a boa e velha candeia que fazia das trevas nada mais que um pequeno relance de nostalgia. Melodiosos os ferreiros que trabalhavam o aço que um dia seria mais ou uma singela picareta ou o mais trabalhado dos revólveres, tamanho fascínio exercias nos viajantes que uma vez chegados não mais conseguiam partir.

E essas tuas noites cheias de luz e vida que não se restringiam aos bares e animavam as toda a cidade, o som da guitarra a ecoar por essas já poeirentas ruas acompanhado do troar do saxofone e o ritmo frenético do piano tocado pelo taberneiro (com a sua musa e amor ao lado) faziam esquecer o sofrimento da vida diurna e mudavam drasticamente as caras pálidas e poeirentas dos mineiros que, nem que apenas por um relance, esqueciam todos os perigos que os esperavam na manhã seguinte.
O teu luar que teve sempre por companheira a harmónica do velho xerife, que desde a sua cadeira no seu alpendre contemplava toda uma cidade que amava como ninguém mais poderia amar: desde o simples fumo que das chaminés subia rumo aos céus, num zigue zague constante até ao uivo dos coiotes, sem o qual com toda a certeza a sua música não seria a mesma.

Mas ninguém é eterno e também a harmónica morreu levando com ela os coiotes e quem sabe, também um pouco de ti que perdias o teu maior amante e amigo. E quando a velha companhia de mineração dá por encerrada a mina e cessa o assobio pelo vapor das velhas máquinas e os jovens não mais sentem o seu chamamento é o fim. Mineiros, ferreiros, carpinteiros, homens de arte e engenho todos são obrigados à sua última viagem na velha Maria Fumo (como tão docemente haviam apelidado a fiável locomotiva) que os levará a novos destinos com a incerteza de um dia aí voltar.

Foram-se os juventudes, ficaste tu e outros que tal como o bom xerife a ti haviam feito juras de amor. Ficou o bar, a estação, a formosa escola e o posto dos correios.
Os dias já não eram pautados por qualquer som, apenas o vento a bater nas inertes portadas de madeira que oscilavam para trás e para a frente; e as noites passava-as o taberneiro no seu bar, sentado ao piano rodeado por uma plateia incapaz, tal como ele, de deixar a vida naquela sua pequena mas acolhedora cidade.

O professor entregue ao seu gin tónico e ao seu cachimbo marcado pelos anos perguntava-se quanto tempo mais aquela espera pelo fim duraria para ser logo a seguir animado pelo coveiro, que apesar do malfadado ofício adorava todo aquele isolamento, não teve de esperar muito… Num espaço de meses ficaste sem o teu pai e mentor, que educara as tuas crianças e delas fizera homens e mulheres como nunca outra cidade tivera. O velho telegrafista não resistiu a uma pneumonia e soltaria a sua última palavra de apreço a ti na primavera seguinte. Restava agora o coveiro, o funcionário da estação e o taberneiro, perdão; apenas os dois primeiros pois oeste último farto da solidão e de intermináveis noites sentado ao piano, já com as teclas de marfim gastas pelo tempo, quis reencontrar a sua há muito perdida esposa e amor de uma vida, vítima da tuberculose.

Partia assim o último Comboio, com a certeza de nunca mais voltar.
Ficaram para trás vidas, misteriosos contos e lendas dos grandes aventureiros que um dia em ti mas acima de tudo por ti existiram. Só a Lua e as montanhas que te rodeiam se irão lembrar do velho xerife e da sua harmónica, do taberneiro enamorado pela música ou do professor que definhou no leito de morte pelo pupilo que tantos anos esperara em vão. Só eles sabem o quanto sofreram as tuas gentes e quanto te amaram. Só eles sabem quem tu um dia foste...


Calico.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Sonho de uma Noite de Verão

Podias ter sido tudo, mais do que um olhar momentâneo e fugaz que engana a alma e consume o coração, ser fogo e ser ardor. O teu andar sinuoso e gracioso pelas estreitas ruelas que à tua passagem se encantavam e murmuravam o canto da noite, dessa que roubavas e tornavas tua de uma maneira tão inocente quanto apaixonada. Ao teu sorriso retribuíam a mais suave das brisas que os teus cabelos tanto gostavam de acariciar; como censurar a vontade de tocar e sentir a perfeição que de ti exalta, como negar que és mais que uma mísera nota na melodia quando tu própria foste a musa, essência e alma desse cântico que fazes ecoar pela calçada, essa mesma calçada onde o Mondego conta a Coimbra os seus amores horas afim, essa mesma que tantos viu e poucos realmente sentiu.

A lenta melodia dos teus passos e o som do teu sorriso conquistam e enfeitiçam tudo quanto beijam, maldita mulher que roubas o protagonismo à senhora Lua e com ele abalas o mundo, ninguém nunca o saberá…
Revolta-me não ser capaz de to cantar, declamar ou simplesmente confessar, querer e não conseguir ser a rua pela qual o inverso de ti tanto anseia ou simplesmente não te saber tocar sem estragar a Ode que a tua existência é.
És vida para qualquer amante desta, heroína dos loucos e panteão da imaginação.

Poderias de facto ter sido tudo isso, mas nem eu sou a rua que queres nem tu saberias como tocar de letra nela, és delicadeza e rebeldia és demasiado para tão pouco coração, enlouqueces com um olhar para a seguir entristecer com um sorriso que nunca será meu, do qual nunca poderei ser razão ou ladrão. És o sonho efémero de uma noite de verão. Dessa noite que nunca será nossa, numa rua que nunca poderia ter sido a minha. Nada disto teria sido real

Apenas tu…


03h01
9 de Julho de 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cinema Paraíso

Reluzentes cadeiras de estofos escarlate essas que povoavam as tuas amplas salas, catedrais e mausoléus de glória e arte.
Ansiosas a cada nova sessão, como tão bem as habituaste, por saber quais os amores e traições reservadas a esse galã que, apesar de ser o mesmo de sempre, cheirava a novo. Fascinavam-se com as suas falas, rejubilavam de cada vez que a sua espada decepava um após o outro todo um exército de bárbaros, exaltaram com cada novo amor para por fim, no seu leito de morte chorarem desalmadamente, após míticos dragões e bestas derrotadas a sua existência cessava por força do velho inimigo – o tempo esse que não perdoa.

Foram o conforto de milhares, com eles riram, gritaram de horror até à exaustão e desesperaram com os dramas e os romances impossíveis. As mais fiéis companheiras que um amante da sétima arte pode encontrar nesse mundo aparte que Tu e só Tu poderias criar. Forrado a negro, com as tuas letras tatuadas em tons de sangue pelas tuas filas que desciam suavemente rumo ao palco dos sonhos onde tudo é possível e o nosso imaginário pode vezes sem conta correr livre e inocente.

Ensinaste como as estrelas beijam a noite e como a areia seduz as ondas do mar, ensinaste que a miséria da vida é suplantada por efémeros momentos de pura alegria.
Deliciaste crianças com os teus contos fantásticos dos grandes heróis da história, aterrorizaste com alguns dos mais horrendos vilões que algum dia tiveram o desprazer de conhecer. Gelaste-me de medo deixando-me sozinho no meio daquele oceano de silêncio e escuridão para logo de seguida me aqueceres com o fogo do teu projector e as melodias que das tuas negras colunas saíam incessantemente.

Como se puderam esquecer de ti e entregar-te de forma tão decidida ás aranhas, como puderam deixar que o teu negro fosse acinzentado pelas inúmeras teias que tingiram as tuas paredes, como deixaram o pó tocar no teu soberbo projector, como diz-me como!? O escarlate está agora manchado com as lágrimas que vertes após tantos anos a fabricar alegrias e fantasias. O teu ar clássico marcou toda uma geração, filhos foram pais, foram avós mas, Tu nunca mudaste e uns após os outros a todos foste refúgio e fonte de inspiração.
Como puderam fazer-te isto, deixar-te morrer assim e pior que isso, sem nunca se terem despedido de ti. Tu que foste mentor e professor, foste pai, irmão e filho mas muito mais que isso...


...foste Cinema Paraíso.

05h59
7 de Julho, 2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Escrever de Olhos Fechados

Coisa fenomenal essa, escrever sem olhar, sem pensar, sem regra ou pauta, um escrever porque sim, porque sai, porque não é restringido por sentimentos, é expressão no seu estado mais puro e ardente. Quantas vezes já não dei por mim a desejar fazê-lo, a ser capaz de escrever sem que através disso fique embrenhado em infindáveis pensamentos, cada um capaz a suscitar os seus próprios sentimentos. Como seria bom poder escrever sem medo, medo de sofrer ao escrever, medo de memórias passadas ou até futuras, medo de tudo o que volte a reviver ou viva antes do tempo, medo de simplesmente ser. Medo das consequências que tanto nos podem condicionar. Escrever direito do coração, sincero ao máximo, com todo o sentimentalismo que transmita, o quão maravilhoso seria se um fosse capaz de o fazer. Haveriam obras mais sentidas, histórias escritas com mais paixão, tudo seria mais intenso, tudo seria escrita e toda a escrita seria vida. Ai escrever de olhos fechados, se ao menos pudesse…

terça-feira, 4 de maio de 2010

Uma boa duma rambóia.



A Orquesta que se meteu à estrada.

Num qualquer recanto sombrio de uma antiga taberna daquelas à moda portuguesa é comum encontrar, nos dias que correm, um conjunto de jovens músicos que, alegram e dão luz por aquela taberna fora, transformando a mais decadente das tabernas no mais acolhedor dos locais neste país.
Parece uma tarefa difícil mas não para quem conta nas suas fileiras com a bela da guitarra acústica que enche todo um coração o bom, velho e já conhecido ecoar de um contrabaixo fundido com o da bombo e adaptado aos apertos dos dias que correm, desde o estrilhaçar de uma Guitarra Portuguesa (versão conimbricense como manda a praxe) a qual é esgalhada até não poder mais e retirando dela toda a sua essência, sonoridade e alegria a um acordeonista que maneja o seu instrumento como se uma bela rapariga se tratasse ou de um trompetista que até a sua alma sopraria para o seu instrumento se tanto lhe garantisse a melhor das melodias.
Quando a isto juntamos o inegável carisma e talento de uma linda mulher temos algo fora do normal neste país.

Com Pablo, o homem do leme(baixo&batida); Lima, o arquitecto (guitarra portuguesa); Zeto, o rapaz d’aço (Violino&Guitarra Acústica); Donatelo, o bon vivant (Acordeão); Marques, o mestre da algazarra (trompetista) e Miranda, a das cantiguinhas na boca (vocalista), OquesTrada esta!

Já existem à vontade desde 2002 mas apenas o ano passado gravaram o seu primeiro álbum que ilustra na perfeição aquilo em que transforma todo e qualquer espaço que agraciem com a sua presença: "Tasca Beat! O Sonho Português!" E que sonho este!
De um ritmo contagiante que alumina noite a dentro os corações daqueles que por vontade e escolha decidem com eles fazer a festa.

Tendo um reportório variado e grandes temas como "Kekfoi" , "Oxalá te Veja" ou ainda mesmo "Qualquer coisa me anima" sem esquecer as suas reedições da fantástica "Se esta Rua fosse minha" à qual juntaram de forma genial o "2º Andamento em Fuga" e que andamento! Quem dera à música portuguesa contar com mais de onde estes vieram.





Myspace

Sugestão Pessoal
(Lista de Reprodução no Youtube com algumas daquelas que considero as suas melhores músicas, não dispensa audição do restante reportório)


A Big Band Caricata


Mas a verdade é que mudando um pouco de ares para um ambiente mais boémio, sem no entanto nunca sair de dentro da tasca, deparamo-nos com um outro caricato grupo mais ou menos dentro da mesma onda:
Kumpania Algazarra!

Trazendo até nós uma sonoridade inspirada nos quatro cantos do mundo, desde a alegria contagiante do Klezmer, passando pelo mistério infinito dos ritmos árabes e do médio oriente passando pela genica de uma Big Band de década de 20 e acabando como não podia deixar de ser na boa música popular portuguesa; são certamente um conjunto multifacetado e capaz de levar à loucura o mais comedido.
Senhores de uma pujança fora do vulgar e com um gosto tremendo pelo que fazem, assim se descreve numa frase este grande grupo que não tem recebido tanta atenção quanta merecia.

Quando saem à rua tem o único propósito de levar a alegria e algazarra àqueles que de bom grado a eles se queiram juntar e por essas ruas cantar de manhã à noite. Com paragem aqui e ali assegurada para um qualquer tasco sombrio animar, continuando depois noite fora à luz da lua e da fogueira cantando em várias línguas e ritmos até à exaustão adormecendo então sobre um céu estrelado.

As suas músicas ilustram aquilo que eles representam, uma pluralidade fantástica de gentes e ritmos. Globalização é com eles!
Levam a alegria a qualquer festa e não perdem uma festa popular das antigas.




Myspace
Sugestões Pessoais
(Lista de Reprodução no Youtube com algumas daquelas que considero as suas melhores músicas, não dispensa audição do restante reportório)


Klezmer Revisited


Viajando um pouco pelo mundo até à Europa de Leste sem no entanto sair de Portugal encontramos algo fora de série: Chamam-se Melech Mechaya e à primeira vista têm tudo a ver com um grupo de camponeses descontextualizado no tempo convidando, no entanto a um olhar mais atento, reparando-se então que debaixo do braço todos trazem uma caricata alfaia (violino, clarinete, guitarra, contrabaixo e percussão).

Trazendo até nós uma composição inspirada maioritariamente no Klezmer dos balcãs, na música cigana e na alegria levam-nos a viajar, desde o Ocidente ao Oriente, começando em Portugal e acabando em Israel, Melech Mechaya não é simples música, é uma celebração, uma rambóia interminável que envolve o público e confere uma vontade incontrolável de deixar as cadeiras arrumadas o resto da noite e dançar sem parar ao som dos mais variados temas que fazem parte da sua cultura musical.

Nada do que eu possa dizer sobre este grande conjunto algum dia se equipará à simples audição dos seus registos, como tal aqui fica, quanto a mim calo-me e deixo tocar aqueles que com tanta alma o fazem





Myspace
Sugestão
Canal do grupo no youtube



A nossa produção musical está longe de ser má. Temos música óptima, apenas se aposta nos artistas errados.

Diabo na Cruz - Virou!





E assim do nada, sem aviso prévio, aconteceu! Virou! Ninguém o esperava nem tão pouco estava preparado para algo assim, pelo menos neste pardieiro musical em que o nosso país se tem vindo a transformar nas últimas décadas, sobe a alçada ‘orgulhosa’ da MTV Portugal.
Felizmente de tempos a tempos ainda vão aparecendo umas agradáveis aragens de boa música.
Já o caso de Diabo na Cruz é um autêntico furacão no panorama da música nacional. Nunca por cá se tinha feito algo de igual a este nível. Os Sitiados andaram muito perto é um facto, mas são os Diabo na Cruz que se podem orgulhar de ter sido o primeiro Grupo a levar o folclore até ao Rock N’ Roll e mistura-lo com uma consistência, beleza, uma criatividade espantosa e uma harmonia fora do comum.

Se tivesse de escolher um par de álbuns para representar o que de melhor por cá se tem feito este ‘Virou’ teria obrigatoriamente que figurar entre os lugares cimeiros. Não é um fardo fácil este que eles suportam, porque quer se queira quer não, nos dias que correm são eles o motor da criatividade da música portuguesa, um motor que apesar de modesto é fiável e robusto; no entanto também não é algo novo para este intrépido conjunto que conta no alinhamento com músicos de renome, a começar no mentor e vocalista Jorge Cruz (já participou por exemplo no projecto Superego que foi um dos mais promissores no campo da música alternativa portuguesa), Bernardo Barata(dos Feromona), Pinheiro, B Fachada e João Gil (não o dos Filarmónica Gil).

Mas a verdade é apenas uma, se a tarefa que lhes era proposta era de outro mundo, desse mesmo mundo veio a resposta, na forma de uma robusta mas bela mulher do campo a quem carinhosamente chamamos Dona Ligeirinha. Foi ela que ao lado de Vitorino anunciou "O Regresso da lebre" e prosseguiu com este cantarolando pelas longas e vastas planícies alentejanas sendo apenas capaz de proferir "Tão Lindo" e derretendo inúmeros corações na sua jornada.
Tendo finalmente chegado a uma pacata aldeola com pequenas mas acolhedoras e soalheiras casas, sentou-se numa cozinha cantando ao sol que "Os Loucos estão certos" e que também ela estava louca por alguém, o que apenas poderia resultar em "Casamento" , mas quem seria digno de tal amor desta bela e irreverente jovem? Isso aí foi o "Bico de um prego" para resolver mas após algum tempo a seguir um vulto, fazendo montes e vales a cantar o seu amor finalmente o alcançou: "Dom Fuas Roupinho" que curiosamente também o amor procurava, uma certa moça que para ele era a mais bela, que certo dia havia visto a cantarolar alegremente pelos caminhos desse Alentejo e nunca mais vira desde então, desejava partilhar tudo com ela, se ao menos a pudesse descobrir… Até que certo dia pelas ruas dessa aldeola uma serena mas tocante melodia ecoou e Roupinho na hora da chegada dessa melodia "Fecha a Loja" e parte em busca dessa "Canção do Monte" onde por fim a acha e lhe pede a sua mão e lhe confessa o seu amor e dedica a sua existência. No seu jeito único convida-o para um "Corridinho de Verão" ao qual ele acede dançando desde o sopé até ao cimo desse belo monte de onde juntos miram a longa e infindável planície num suspiro partilhado na troca de um beijo longo e merecido.

Há tanto Tempo que não se via "Bom Tempo"


Não viraram apenas as suas vidas, viraram igualmente a música portuguesa do avesso bem como a um qualquer apreciador de boa música. Nada fazia esperar algo desta magnitude por esta altura. Resta ouvir e sorrir.


Algumas Músicas


Pois é Roque, então? Então que seja Roque! E Virou!