quinta-feira, 27 de maio de 2010

Escrever de Olhos Fechados

Coisa fenomenal essa, escrever sem olhar, sem pensar, sem regra ou pauta, um escrever porque sim, porque sai, porque não é restringido por sentimentos, é expressão no seu estado mais puro e ardente. Quantas vezes já não dei por mim a desejar fazê-lo, a ser capaz de escrever sem que através disso fique embrenhado em infindáveis pensamentos, cada um capaz a suscitar os seus próprios sentimentos. Como seria bom poder escrever sem medo, medo de sofrer ao escrever, medo de memórias passadas ou até futuras, medo de tudo o que volte a reviver ou viva antes do tempo, medo de simplesmente ser. Medo das consequências que tanto nos podem condicionar. Escrever direito do coração, sincero ao máximo, com todo o sentimentalismo que transmita, o quão maravilhoso seria se um fosse capaz de o fazer. Haveriam obras mais sentidas, histórias escritas com mais paixão, tudo seria mais intenso, tudo seria escrita e toda a escrita seria vida. Ai escrever de olhos fechados, se ao menos pudesse…

terça-feira, 4 de maio de 2010

Uma boa duma rambóia.



A Orquesta que se meteu à estrada.

Num qualquer recanto sombrio de uma antiga taberna daquelas à moda portuguesa é comum encontrar, nos dias que correm, um conjunto de jovens músicos que, alegram e dão luz por aquela taberna fora, transformando a mais decadente das tabernas no mais acolhedor dos locais neste país.
Parece uma tarefa difícil mas não para quem conta nas suas fileiras com a bela da guitarra acústica que enche todo um coração o bom, velho e já conhecido ecoar de um contrabaixo fundido com o da bombo e adaptado aos apertos dos dias que correm, desde o estrilhaçar de uma Guitarra Portuguesa (versão conimbricense como manda a praxe) a qual é esgalhada até não poder mais e retirando dela toda a sua essência, sonoridade e alegria a um acordeonista que maneja o seu instrumento como se uma bela rapariga se tratasse ou de um trompetista que até a sua alma sopraria para o seu instrumento se tanto lhe garantisse a melhor das melodias.
Quando a isto juntamos o inegável carisma e talento de uma linda mulher temos algo fora do normal neste país.

Com Pablo, o homem do leme(baixo&batida); Lima, o arquitecto (guitarra portuguesa); Zeto, o rapaz d’aço (Violino&Guitarra Acústica); Donatelo, o bon vivant (Acordeão); Marques, o mestre da algazarra (trompetista) e Miranda, a das cantiguinhas na boca (vocalista), OquesTrada esta!

Já existem à vontade desde 2002 mas apenas o ano passado gravaram o seu primeiro álbum que ilustra na perfeição aquilo em que transforma todo e qualquer espaço que agraciem com a sua presença: "Tasca Beat! O Sonho Português!" E que sonho este!
De um ritmo contagiante que alumina noite a dentro os corações daqueles que por vontade e escolha decidem com eles fazer a festa.

Tendo um reportório variado e grandes temas como "Kekfoi" , "Oxalá te Veja" ou ainda mesmo "Qualquer coisa me anima" sem esquecer as suas reedições da fantástica "Se esta Rua fosse minha" à qual juntaram de forma genial o "2º Andamento em Fuga" e que andamento! Quem dera à música portuguesa contar com mais de onde estes vieram.





Myspace

Sugestão Pessoal
(Lista de Reprodução no Youtube com algumas daquelas que considero as suas melhores músicas, não dispensa audição do restante reportório)


A Big Band Caricata


Mas a verdade é que mudando um pouco de ares para um ambiente mais boémio, sem no entanto nunca sair de dentro da tasca, deparamo-nos com um outro caricato grupo mais ou menos dentro da mesma onda:
Kumpania Algazarra!

Trazendo até nós uma sonoridade inspirada nos quatro cantos do mundo, desde a alegria contagiante do Klezmer, passando pelo mistério infinito dos ritmos árabes e do médio oriente passando pela genica de uma Big Band de década de 20 e acabando como não podia deixar de ser na boa música popular portuguesa; são certamente um conjunto multifacetado e capaz de levar à loucura o mais comedido.
Senhores de uma pujança fora do vulgar e com um gosto tremendo pelo que fazem, assim se descreve numa frase este grande grupo que não tem recebido tanta atenção quanta merecia.

Quando saem à rua tem o único propósito de levar a alegria e algazarra àqueles que de bom grado a eles se queiram juntar e por essas ruas cantar de manhã à noite. Com paragem aqui e ali assegurada para um qualquer tasco sombrio animar, continuando depois noite fora à luz da lua e da fogueira cantando em várias línguas e ritmos até à exaustão adormecendo então sobre um céu estrelado.

As suas músicas ilustram aquilo que eles representam, uma pluralidade fantástica de gentes e ritmos. Globalização é com eles!
Levam a alegria a qualquer festa e não perdem uma festa popular das antigas.




Myspace
Sugestões Pessoais
(Lista de Reprodução no Youtube com algumas daquelas que considero as suas melhores músicas, não dispensa audição do restante reportório)


Klezmer Revisited


Viajando um pouco pelo mundo até à Europa de Leste sem no entanto sair de Portugal encontramos algo fora de série: Chamam-se Melech Mechaya e à primeira vista têm tudo a ver com um grupo de camponeses descontextualizado no tempo convidando, no entanto a um olhar mais atento, reparando-se então que debaixo do braço todos trazem uma caricata alfaia (violino, clarinete, guitarra, contrabaixo e percussão).

Trazendo até nós uma composição inspirada maioritariamente no Klezmer dos balcãs, na música cigana e na alegria levam-nos a viajar, desde o Ocidente ao Oriente, começando em Portugal e acabando em Israel, Melech Mechaya não é simples música, é uma celebração, uma rambóia interminável que envolve o público e confere uma vontade incontrolável de deixar as cadeiras arrumadas o resto da noite e dançar sem parar ao som dos mais variados temas que fazem parte da sua cultura musical.

Nada do que eu possa dizer sobre este grande conjunto algum dia se equipará à simples audição dos seus registos, como tal aqui fica, quanto a mim calo-me e deixo tocar aqueles que com tanta alma o fazem





Myspace
Sugestão
Canal do grupo no youtube



A nossa produção musical está longe de ser má. Temos música óptima, apenas se aposta nos artistas errados.

Diabo na Cruz - Virou!





E assim do nada, sem aviso prévio, aconteceu! Virou! Ninguém o esperava nem tão pouco estava preparado para algo assim, pelo menos neste pardieiro musical em que o nosso país se tem vindo a transformar nas últimas décadas, sobe a alçada ‘orgulhosa’ da MTV Portugal.
Felizmente de tempos a tempos ainda vão aparecendo umas agradáveis aragens de boa música.
Já o caso de Diabo na Cruz é um autêntico furacão no panorama da música nacional. Nunca por cá se tinha feito algo de igual a este nível. Os Sitiados andaram muito perto é um facto, mas são os Diabo na Cruz que se podem orgulhar de ter sido o primeiro Grupo a levar o folclore até ao Rock N’ Roll e mistura-lo com uma consistência, beleza, uma criatividade espantosa e uma harmonia fora do comum.

Se tivesse de escolher um par de álbuns para representar o que de melhor por cá se tem feito este ‘Virou’ teria obrigatoriamente que figurar entre os lugares cimeiros. Não é um fardo fácil este que eles suportam, porque quer se queira quer não, nos dias que correm são eles o motor da criatividade da música portuguesa, um motor que apesar de modesto é fiável e robusto; no entanto também não é algo novo para este intrépido conjunto que conta no alinhamento com músicos de renome, a começar no mentor e vocalista Jorge Cruz (já participou por exemplo no projecto Superego que foi um dos mais promissores no campo da música alternativa portuguesa), Bernardo Barata(dos Feromona), Pinheiro, B Fachada e João Gil (não o dos Filarmónica Gil).

Mas a verdade é apenas uma, se a tarefa que lhes era proposta era de outro mundo, desse mesmo mundo veio a resposta, na forma de uma robusta mas bela mulher do campo a quem carinhosamente chamamos Dona Ligeirinha. Foi ela que ao lado de Vitorino anunciou "O Regresso da lebre" e prosseguiu com este cantarolando pelas longas e vastas planícies alentejanas sendo apenas capaz de proferir "Tão Lindo" e derretendo inúmeros corações na sua jornada.
Tendo finalmente chegado a uma pacata aldeola com pequenas mas acolhedoras e soalheiras casas, sentou-se numa cozinha cantando ao sol que "Os Loucos estão certos" e que também ela estava louca por alguém, o que apenas poderia resultar em "Casamento" , mas quem seria digno de tal amor desta bela e irreverente jovem? Isso aí foi o "Bico de um prego" para resolver mas após algum tempo a seguir um vulto, fazendo montes e vales a cantar o seu amor finalmente o alcançou: "Dom Fuas Roupinho" que curiosamente também o amor procurava, uma certa moça que para ele era a mais bela, que certo dia havia visto a cantarolar alegremente pelos caminhos desse Alentejo e nunca mais vira desde então, desejava partilhar tudo com ela, se ao menos a pudesse descobrir… Até que certo dia pelas ruas dessa aldeola uma serena mas tocante melodia ecoou e Roupinho na hora da chegada dessa melodia "Fecha a Loja" e parte em busca dessa "Canção do Monte" onde por fim a acha e lhe pede a sua mão e lhe confessa o seu amor e dedica a sua existência. No seu jeito único convida-o para um "Corridinho de Verão" ao qual ele acede dançando desde o sopé até ao cimo desse belo monte de onde juntos miram a longa e infindável planície num suspiro partilhado na troca de um beijo longo e merecido.

Há tanto Tempo que não se via "Bom Tempo"


Não viraram apenas as suas vidas, viraram igualmente a música portuguesa do avesso bem como a um qualquer apreciador de boa música. Nada fazia esperar algo desta magnitude por esta altura. Resta ouvir e sorrir.


Algumas Músicas


Pois é Roque, então? Então que seja Roque! E Virou!