sábado, 23 de outubro de 2010

Penguin Cafe Orchestra





Calcorreando as ruas de uma qualquer zona menos iluminada deste mundo é, na grande maioria dos casos convite a acabar a noite sem documentos e sem roupa; não deixa de ser no entanto verdade que por vezes a audácia (ou a loucura) de tentar tal façanha é recompensada quando por fim encontramos aquele café pelo qual corremos toda uma ruela pouco iluminada. O aspecto exterior não é de todo convidativo nem tão pouco existe um letreiro de boas vindas… existe tão somente uma melodia que ecoa pelas variadas portadas cerradas através das quais sai uma fraca luminosidade. Não é de todo convidativo bem sei, mas e porque não um último impulso irracional de alguém que anseia algo diferente de tudo aquilo a que já teve direito? Algo sublimemente fora de série e espectacular ao ponto de em cada acorde, em cada nota, em cada respiração provocar uma completa explosão no nosso interior, sentir um misto de alegria e tristeza, revolucionando de uma forma calma e metódica toda uma concepção do conceito de Música.

Não é algo fácil de se conseguir, especialmente porque é preciso saber entrar timidamente nesse pequeno e escuro café, encontrar o nosso lugar, pedir a nossa bebida e sincronizar a nossa batida com a da melodia que ecoa e enche a alma no preciso momento em que a última gota cai acompanhando o eco cada vez mais distante de algo que enchera aquele bar de uma maneira indescritível.

Não falo de algo utópico, a perfeição rítmica, criativa e apaixonada da Música realmente existe. Não é algo acessível, é uma musicalidade difícil e que só se compreende quando abrimos a mente e deixamos escapar tudo o quanto seja acessório na nossa vida, apenas quando música é tudo o que sobra somos capazes de sentir o vibrar do violino, o ressoar da caixa de rufo, o moroso sussurrar do baixo ou o silencioso tocar dos dedos nas teclas dos harmónios, pianos e órgãos; coisas que por si só seriam simples ruído tornam-se num contexto geral algo mais que conhecimento, muito acima do homem ou da vida. Tornam-se na mais perfeita melodia que aquele Café do Pinguim e a sua Orquestra nos podem proporcionar. Não é um tipo de música fácil, nunca o foi o Jazz quanto mais o Jazz de Câmara, é uma modalidade fechada e algo difícil de interiorizar mas trás com ele a promessa de conferir a quem lhe dedicar algum tempo a mais espectacular das sensações, que há coisas nesta vida que valem a pena.

Não basta ouvir ou ver, é preciso sentir, é preciso ser uno com ela, deixar que o mais simples som se faça ressoar através de nós e que com ele transporte um pouco da nossa essência.

De toda essa panóplia de informação biográfica desde terem tido 25 anos de actividade até terem sido simplesmente um dos mais influentes grupos de música de câmara na história da música, passando pelo seu trágico fim aquando da morte do seu líder e mentor, Simon Jeffes que desde o órgão à guitarra,passando pela flauta ou até pelo português cavaquinho, tudo sabia tocar e encantar; nada do que diga se poderá comparar à simples descrição de todo esse conjunto de sensações diferentes e únicas que Penguin Cafe Orchestra proporciona. Não me vejo como um guru musical, vejo-me sim como um vendedor de sonhos que de bom grado e em troca de um sorriso partilha aquilo que ainda vai dando alguma cor a esta vida que cada vez mais é em tons de sépia.

Há música em mim, em ti, nele, nós, vós e eles. Desde as mais profundas entranhas da terra ao mais alto dos planaltos, do calor do deserto às neves das montanhas. Tudo isto é Música, tudo isto é Vida.


Penguin Cafe Orchestra
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1 comentário:

Anónimo disse...

Belíssimo texto, me identifico perfeitamente nele... Viva o "PENGUIN", graças a ele temos a música que busca ser representante da vida...