sábado, 12 de fevereiro de 2011

Diários de Calico #7

Na minha infância em Calico vi muitos nascer do Sol, gloriosos e imponentes sobre as selvagens montanhas que eram as fieis guarda-costas de Calico contra os temíveis ventos e areias do deserto, que se reflectiam sobre tudo desde as pequenas e insignificantes areias, os vidros da casas; que de uma forma desordenada estavam plantadas ao longo do caminho. Era um aspecto do quotidiano, nada de relevante para uma qualquer pessoa numa qualquer cidade mas em Calico, sabia tão diferente, talvez o saiba agora pela saudade talvez já o sentisse na altura. A verdade é que em Calico tudo parecia ser diferente, era como se soubesse à partida que nada daquilo duraria para sempre; seria um sonho de uma quente noite de verão que apesar de agradável e apetecível teria de acabar para um novo dia nascer.

Foi essa uma das primeiras impressões que causou em mim enquanto descia os degraus da cansada locomotiva que durante horas acelerara furiosamente entre as áridas e inóspitas terras do deserto de Mojave. Lembro-me que chegara mesmo de manhãzinha a tempo de presenciar o nascer do Sol que primeiro timidamente e depois com convicção escalava essas montanhas que eram rainhas num horizonte plano e com uma vastidão como nunca vira. Gostei, aliás gostar é pouco… tocou-me com uma tamanha intensidade, era tão bonito que doía. Provocava-o tão somente a mera possibilidade de um dia ser privado da maravilha que me acabara de ser permitido vislumbrar.

E por mais anos que viva, por mais sítios que visite uma coisa é certa: poucas coisas nesta vida se poderão comparar à unicidade que era aquele rápido relance matinal do sol a acordar levemente as montanhas de Calico com o seu leve beijo de luz.

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