sábado, 26 de fevereiro de 2011

Diários de Calico #10

Mas se o meu último relato vos faz navegar na mera ilusão de que Patrick e Clarence acabaram juntos então julgo ser meu o dever de vos retirar desse armadilhado pensamento. Em muito boa verdade Patrick Williams era um escumalha do pior que tanta sofisticação e bons modos escondiam de uma forma quase mágica, digno de um mestre do ilusionismo.

Havia uma razão para ele ali estar, ao contrário do que os contos sugiram os príncipes encantados não surgem do nada montados no seu reluzente cavalo branco por entre as brumas primaveris, nem tão pouco eles se destinam a senhoras como De Lil, os príncipes são para princesas e De Lil não era uma nem de perto nem de longe…
Infelizmente de gentleman Patrick Williams só tinha mesmo a fama, era um foragido da justiça que havia assaltado um banco em São Francisco e pelo caminho alvejado mortalmente um pequeno moço que vendia jornais e que por um macabro acaso foi apanhado no meio da troca de tiros entre ele e as forças da autoridade.

Tentando refugiar-se não só das incessantes buscas pela sua pessoa mas também para esquecer a jovem vida que tão abrupta e acidentalmente roubara Bill rumou a Calico, que tal como para muitos outros era senão um El Dorado no meio do deserto.
Apesar da sua falta de escrúpulos não se considerava um rude e cruel assassínio nem tão pouco considerava uma vida humana como um sacrifício aceitável para atingir os seus objectivos e aquele pequeno rapaz de olhos arregalados agora vazados de vida seria algo que lhe perduraria e perseguiria para sempre.


Como já devem ter entendido, Williams é o típico anti herói que apesar de ser um patife encanta com o seu malévolo e misterioso passado, e o facto de ter tão vilmente cessado com uma vida que ia na sua primavera não serve senão para aguçar a curiosidade neste sombrio personagem.

Tal como vós, caros leitores, também De Lil não conseguiu resistir a estes negros encantos e caiu no seu jugo de amor e sedução mas para aqueles que possam pensar que ela o fez sem o menor dos cuidados desengane-se, De Lil cedo percebeu que Williams não era aquilo que tão discretamente tentava aparentar mas percebeu igualmente que havia algo nele que a fascinava e talvez, quem sabe, se tenha deixado iludir sob a ingénua esperança de que o pudesse controlar na impossibilidade de o mudar.

Se mo perguntassem diria que Patrick e Clarence nunca confiaram realmente um no outro, nenhum deles esperava que o outro abdicasse do que quer que fosse em prol do outro, nenhum tinha irrisórias esperanças ou sonhos de uma vida partilhada a dois, viam-se como duas matreiras raposas que, dentro dos limites do humanamente aceitável, tinham uma relação que assentava num entendimento mútuo e respeito mas, até nestes casos o amor pode vir a surgir... Improvável, mas não impossível...

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