domingo, 21 de dezembro de 2008

Reescrevendo: Fantasmas Passados



Imaginem o aspecto de um mundo após um conflito global: pobreza, países arruínados, nos quais reina a mais pura e simples anarquia. Um mundo que acorda todos os dias na expectativa de aquela realidade ser apenas mais um sonho mau, um sonho do qual irá eventualmente acordar e então tudo estará coberto por prados verdejantes, vislumbrando-se no fundo a típica montanha gelada.
A palavra normalidade perdeu o significado(ou pelo menos o que consta de um qualquer dicionário). Nada pode ser normal num mundo no qual o dia seguinte é em tudo idêntico ao anterior.

Nada excepto o moroso e fastidioso fluir da hora. Nada é mais certo ou fatal em tal mundo.
Acontece que, desta vez, nada do que tem lugar é devido a um conflito. È algo que ainda permanece envolto em mistério e para o qual nunca ninguém achou uma explicação. Esse mundo simplesmente acordou e apercebeu-se de que tudo estava diferente. O Sol já não brilhava nem os pássaros cantavam de manhã, os céus eram cobertos por pesadas nuvens, aqui e ali soberbos relâmpagos trovejantes rasgavam os céus.


E se eu vos dissesse que nesse mundo existia alguém capaz de mudar tudo isso? Sim eu sei, fechariam logo a página e seguiriam com as vossas vidas, mas não o vou dizer pois estaria a intrujar quem eventualmente esteja a ler.

Um homem não faz a diferença, quanto muito contribui para ela, quem tentar convencer o ser humano do contrário é, obviamente, insano.

No entanto, nesse mundo não faltaria quem acreditasse em tal boato. É sempre bom existir esperança, mesmo quando sabemos que é impossível. (É isso que motiva o homem, desde sempre e para sempre). E não faltaria, logicamente, quem forçosamente se candidatasse ao posto; é um aspecto predominante e fascinante da nossa raça. Queremos sempre ser algo mais do que singelos humanos com as suas limitações biológicas. Acha-se sempre que não se pode ser algo tão limitado num mundo colossal.

Tudo nesse mundo estava envolto em mistério, desde onde se vinha até para onde era suposto ir parar.

Muitos foram os que em vão o tentaram compreender, e o resultado era sempre o mesmo. Eram encontrados inanimados sem razão aparente. O corpo estava vivo, o sangue fluía rápido pelas veias, o coração batia; mas a expressão facial era sempre a mesma: de congelamento.
Parecia que essas pessoas tinham sido simplesmente 'paradas' no tempo, como se tivessem ficado confinadas aquelas fracções de segundo para uma eternidade incerta. Um fado, portanto, pior do que a própria morte.
Para muitos a morte representa libertação, da alma, espírito ou o que lhe quiserem chamar, não sendo morte, o destino dessas pobres almas, esse sim, é uma prisão. A mente permanece confinada à imobilidade de um corpo que já não atende aos pedidos do cérebro..

Se ao ínicio eram acontecimentos isolados, a certa altura algo aconteceu e passou a afectar quem, de uma maneira ou de outra, esteve envolvido nessa busca, desde simples pessoas que financiaram pesquisas, até aos responsáveis pelas mesmas. Parecia que algo ou alguém não queria que tal assunto fosse sequer tocado. Todos estes acontecimentos, aparentemente paranormais, provocaram um medo que rapidamente se tornou global, tal e qual como a miséria.

Ao longo dos anos, em grande parte devido ao medo (essa kryptonite dos bravos) o assunto caiu no esquecimento. O mundo foi recuperando como lhe foi permitido e eventualmente tornou-se um local melhor, não como muitos ainda preservavam na memória, mas certamente melhor do que as montanhas de betão desfeito de outrora.

Nos dias que corriam, os tempos de escuridão nada mais representavam do que uma leve e distante recordação que muitos tentavam a todo o custo esquecer, a qual não demorou até ser convertida em mito pelos diversos cultos. Desde os mais levianos e razoáveis que aceitaram esses tempos da mesma maneira como aceitaram a idade do gelo ou a extinção dos dinossauros (designando-os como a 'Idade da desolação') até aos mais extremistas (esses que consideram que todos os males do mundo são uma qualquer punição de uma força metafísica, seja ela um Deus ou uma pedra cósmica) que os designaram como sendo a punição divina à podridão humana. Havia ainda quem considerasse esses tempos como sendo: 'As Portas do Apocalipse'. Tolos, sabiam lá eles que tempos haviam sido aqueles, quanto mais a que se deviam.

Como todo e qualquer acontecimento também este havia sido catalogado como algo 'passado e irrelevante'. E assim, caindo no esquecimento total e mantido apenas nos corações dos velhos livros poeirentos das mais antigas bibliotecas, era como se esses tempos não tivessem existido. Vários anos de história humana tinham sofrido assim o mesmo destino que as pobres almas que os tentaram compreender: o congelamento no tempo.

Mas como já deve ser notório por esta altura, a única coisa capaz de escapar ao congelamento no tempo é o próprio tempo, e esse foi o primeiro grande erro do homem...




(e talvez o último).

4 comentários:

C. Silveira disse...

gostei. está aí um raciocínio bem feito, rapaz.
abraço

Anónimo disse...

Um óptimo capitulo. A tua forma de escrita deu à minha história uma profundidade que eu nunca imaginei ter. Espero que o resto seja tão bom ou melhor. Certamente vai ser com as nossas duas mentes a trabalharem em Uníssono! Obrigado!

Tiago Custódio disse...

ora aí está uma introdução que me deixou curioso acerca da história.
foges logo à típica forma dom mundo desolado em que do nada aparece o herói sem passado: apenas a desolação esquecida, e o motivo ainda envolto em mistério... gostei
;)

Anónimo disse...

Conseguiste deixar-me sem palavras.
[E tu já deves ter percebido que isso é dificil. '--]

Continua a escrever, por favor.
*.*

Beijinho ^^